segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Psicose: Terceiro Capítulo - Case-se Comigo.

As semanas foram se passando, Caroline e Erik se aproximavam a cada dia mais, agora passavam quase o dia todo juntos, parecia que uma centelha de esperança se acendia em ambos, e que, talvez, um pouco de alegria nascesse em seus corações. Parecia haver uma melhora em Caroline, apesar de estar quase sempre melancólica e silenciosa, quando estava com Erik uma luz passava a brilhar em seus olhos. Porém, algo a inquietava há alguns dias. Ela percebera que algumas horas do dia, Erik simplesmente sumia, e mesmo não se sentindo no direito, tinha uma curiosidade e certo rancor pela descrição da parte dele, mesmo para com ela. Com o tempo, ele começou a perceber que o comportamento dela mudava sempre que reaparecia e achou justo dizer a ela onde se metia, dizer não, mostrar.
- Venha Caroline, confie em mim, ok? – Erik parecia ter adotado uma postura mais brincalhona com ela, depois que se conheceram melhor, mas agora parecia tenso.
- Ah, claro, todo mundo confia em um esquizofrênico, principalmente quando ele a leva para um lugar, cujo você não sabe qual é, e fazer sabe-se lá o que. - disse ela zombando da cara dele. Normalmente, ele teria se sentido ofendido, mas já se acostumara ao temperamento dela, e sabia que, ela não tinha medo nenhum dele, sabia disso desde que conversaram pela primeira vez. – Sério Erik, onde está me levando?
- Espere, já estamos chegando, venha, dê-me sua mão, pode ser que esteja um pouco escuro lá.
Eles estavam descendo as escadas que levavam aos porões do manicômio, normalmente os pacientes não tem acesso a estes lugares.  Bom, vantagens de se ter dinheiro. Erik tinha razão, estava muito escuro lá embaixo, as escadas eram bem íngremes e um pouco tortas, por este motivo Caroline achou melhor seguir o conselho dele e segurar sua mão. Finalmente, chegaram a um lugar plano, ainda estava muito escuro até que uma luz se acendeu, após Erik tatear a parede e encontrar um interruptor. Os olhos de Caroline demoraram um pouco a se adaptar a claridade, levou um pequeno susto quando viu, a uns três metros de onde estavam parados, que havia um lindo piano de calda preta. Este por sua vez, parecia ser único naquela sala, e sua beleza era tamanha que o fato de as paredes serem emboloradas e o lugar úmido, nem importavam tanto.
- O que isso faz aqui, hein? – perguntou Caroline apontando, meio pasma, para o piano.
- Minha mãe mandou que o trouxessem pra cá, para que eu pudesse tocar durante minha, hã... estadia aqui.
- Espera um pouco, não me disse que tocava. – Caroline olhou de cara feia para Erik, que lhe lançou um olhar de desculpas, enquanto se aproximava do piano e puxava o banco; abriu o piano deixando as teclas à mostra, e posicionou-se à frente dele.
Enquanto Caroline olhava, Erik começou a tocar perfeitamente uma música, que depois ela foi descobrir que se chamava “A fada do bosque” (Lorenzo Fernandez). Erik fez uma linda interpretação da música, o que fez com que Caroline soltasse alguns suspiros, e baixasse um pouco a guarda. Quando o rapaz parou de tocar, ela sentou-se ao seu lado no banco que Erik usou para tocar, e ficaram ali por um tempo, conversando e vez ou outra, Erik tocava uma música. Contou sobre sua curta carreira na sinfônica, e ao parar de falar, uma tristeza tomou conta dele, como se nunca mais fosse sentir a sensação de subir ao palco, as borboletas no estômago que antecediam cada apresentação que fazia. Foi quando viu o olhar triste dele, que, Caroline se aproximou e o beijou. Fora um beijo doce e delicado no começo, mas que com o tempo ganhou intensidade, e o desejo tomou conta dos dois, tornando-o devastador e sensual. Erik e Caroline agora estavam de pé. Ele a puxou para seus braços, que agora estavam em volta do delicado corpo da garota. Caroline entrelaçava seus dedos pelo desgrenhado cabelo dele, puxando seu rosto mais para perto. O desejo queimava dentro de seus peitos, e quando por fim se separaram, ambos estavam ofegantes.
Quando se deu conta do que havia acontecido, um rubor impossível de não ser notado tomou conta do rosto de Caroline. E Erik, meio envergonhado pelo ocorrido, deu um sorriso de lado, uma forma de se desculpar e de agradecer.
Logo após o beijo, decidiram que era melhor e mais coerente que subissem antes que os enfermeiros dessem falta deles. E inevitavelmente, quando deram as mãos para enfrentar mais uma vez a escuridão, um sorriso tímido apareceu em seus rostos.
Erik acabara de se deitar para dormir, quando ouviu um gemido. Neste momento ela já sabia o que estava por vir...
- Você está ficando pior do que eu pensava, hein... meu amor. Se aproveitando da garota antes de dar o bote. – a voz na cabeça de Erik agora era de uma mulher, e para piorar, o aterrorizava como nunca. – Não se apaixone por ela, querido, você sabe que pertence a mim, mate-a logo, acabe com isso e venha para mim, venha para meus braços, deixe-me fazer de você o homem que nenhuma outra mulher jamais irá fazer. - Erik tentava resistir, tentava não pensar no que a voz lhe dizia, mas isso ficava cada vez mais difícil.
A voz continuou a lhe atormentar por mais um longo tempo, com juras de amor, falas obscenas e com pedidos sem cabimento. Então, Erik fechou os olhos, e tentou esquecer o que a voz lhe dizia, dessa vez não foi tão difícil, já que não conseguia deixar de pensar no beijo que acontecera um pouco mais cedo. E quando fechou os olhos, o sono logo tomou conta de seu corpo e a inconsciência de sua mente.
Caroline repousava em seu quarto. Estava mais melancólica do que de costume, pela falta que Erik lhe fazia. O medo de perdê-lo e de ser abandonada era incessante. Acabara por adormecer pensando nele.

“Era uma tarde ensolarada, Erik e Caroline estavam à frente de dezenas de pessoas, e pela primeira vez, em muito tempo, ambos se sentiam felizes por completo. Caroline estava radiante em um longo vestido branco, com detalhes prateados que realçavam a palidez de sua pele, fazendo-a resplandecer por tamanha beleza, tão pura e virginal quanto a dos anjos que tocavam as trombetas nos reinos dos céus, anunciando o amor puro e verdadeiro que nutriam um pelo outro. Os pais de Erik estavam lá, assim como suas irmãs. Os pais de Caroline ao lado suas tias, e de algumas crianças, com as quais a moça crescera e que se apegara, ainda que bem pouco. O casamento estava sendo realizado em uma linda praia, com ondas quebrando ao fundo e algumas lindas gaivotas voando ao longe. O padre que realizava a cerimônia era um senhor de bastante idade e de bochechas rosadas; muito sorridente, parabenizava os noivos, que ele dizia ser o casal mais belo que já casara. Erik em um terno preto e sob medida, parecia um príncipe aguardando sua linda dama que ia a seu encontro, para, em breve, tornar-se sua amada e respeitada esposa. Erik nunca estivera tão nervoso e com tanto medo, em pouco tempo teria a responsabilidade de ter em seus braços a mulher mais perfeita de seu mundo. Caroline andava em sua direção, e quando suas mãos se tocaram, um choque leve percorreu por seus corpos, a eletricidade entre eles era tão forte que parecia palpável naquele lugar. Após trocarem juras de amor tão lindas, que fizeram com que grande parte dos que assistiam a cerimônia derramassem algumas lágrimas de emoção, de trocarem as alianças e receber a benção do padre, Erik inclinou-se para tocar os lábios de sua amada esposa....”

Caroline acordou chorando, após ter aquele lindo sonho com Erik, sentia uma nostalgia que fez seu estômago se revirar ao perceber que não passara de uma ilusão. Não entendia como podia estar acordada àquela hora, sabendo que os antidepressivos deveriam fazê-la dormir por toda à noite. Foi ao pensar nisso, que se deu conta de que havia mais alguém no quarto, de início pensou ser algum enfermeiro, passando para ver se estava tudo bem, mas foi só quando viu os profundos olhos de Erik, que percebeu a presença do rapaz.
Erik estava com uma faca empunhada à mão. A escuridão dificultava a visão da moça, que conseguia ver apenas  Erik aproximando-se lentamente, e com um golpe rápido e preciso, cortou-lhe a jugular, fazendo com que o sangue da moça jorrasse por todo lado, manchando inclusive as mãos e as vestes, que em pouco tempo ficaram empapadas do líquido quente e espesso.
- Pronto meu amor, agora poderemos ficar juntos, eles irão nós deixar em paz, no paraíso você será meu eterno anjo, e todas as vozes irão finalmente se calar, os monstros nunca mais irão nos machucar. – com uma pausa e um suspiro melancólico, repleto de dor e agonia, Erik prosseguiu. - Pronto papai, pode se orgulhar de mim agora, pode descansar e enfim partir em paz. Vamos Caroline, meu amor, vamos viver em nosso próprio paraíso, vamos perpetuar nosso amor ao lado dos anjos e deixar para trás todos aqueles que nos feriram e impediram de sermos felizes.
Dizendo isso, Erik ergueu a faca ao alto e com uma força descomunal proferiu um golpe em direção ao próprio peito. Acertando em cheio, seu coração.
Seu corpo caiu ao lado do de sua amada, e por fim, ambos tiveram na morte a paz nunca encontrada na vida, o sangue que jorrava de seus corpos se misturavam, formando o elixir da vida, representando o amor, a pureza e a esperança de um lugar em que suas almas pudessem, enfim se elevar e descansar, lado a lado, em paz.


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