As
semanas foram se passando, Caroline e Erik se aproximavam a cada dia mais,
agora passavam quase o dia todo juntos, parecia que uma centelha de esperança
se acendia em ambos, e que, talvez, um pouco de alegria nascesse em seus corações.
Parecia haver uma melhora em Caroline, apesar de estar quase sempre melancólica
e silenciosa, quando estava com Erik uma luz passava a brilhar em seus olhos.
Porém, algo a inquietava há alguns dias. Ela percebera que algumas horas do
dia, Erik simplesmente sumia, e mesmo não se sentindo no direito, tinha uma
curiosidade e certo rancor pela descrição da parte dele, mesmo para com ela.
Com o tempo, ele começou a perceber que o comportamento dela mudava sempre que
reaparecia e achou justo dizer a ela onde se metia, dizer não, mostrar.
-
Venha Caroline, confie em mim, ok? – Erik parecia ter adotado uma postura mais
brincalhona com ela, depois que se conheceram melhor, mas agora parecia tenso.
-
Ah, claro, todo mundo confia em um esquizofrênico, principalmente quando ele a
leva para um lugar, cujo você não sabe qual é, e fazer sabe-se lá o que. -
disse ela zombando da cara dele. Normalmente, ele teria se sentido ofendido,
mas já se acostumara ao temperamento dela, e sabia que, ela não tinha medo
nenhum dele, sabia disso desde que conversaram pela primeira vez. – Sério Erik,
onde está me levando?
-
Espere, já estamos chegando, venha, dê-me sua mão, pode ser que esteja um pouco
escuro lá.
Eles
estavam descendo as escadas que levavam aos porões do manicômio, normalmente os
pacientes não tem acesso a estes lugares.
Bom, vantagens de se ter dinheiro. Erik tinha razão, estava muito escuro
lá embaixo, as escadas eram bem íngremes e um pouco tortas, por este motivo
Caroline achou melhor seguir o conselho dele e segurar sua mão. Finalmente,
chegaram a um lugar plano, ainda estava muito escuro até que uma luz se
acendeu, após Erik tatear a parede e encontrar um interruptor. Os olhos de
Caroline demoraram um pouco a se adaptar a claridade, levou um pequeno susto
quando viu, a uns três metros de onde estavam parados, que havia um lindo piano
de calda preta. Este por sua vez, parecia ser único naquela sala, e sua beleza
era tamanha que o fato de as paredes serem emboloradas e o lugar úmido, nem
importavam tanto.
- O
que isso faz aqui, hein? – perguntou Caroline apontando, meio pasma, para o
piano.
-
Minha mãe mandou que o trouxessem pra cá, para que eu pudesse tocar durante
minha, hã... estadia aqui.
-
Espera um pouco, não me disse que tocava. – Caroline olhou de cara feia para
Erik, que lhe lançou um olhar de desculpas, enquanto se aproximava do piano e
puxava o banco; abriu o piano deixando as teclas à mostra, e posicionou-se à
frente dele.
Enquanto
Caroline olhava, Erik começou a tocar perfeitamente uma música, que depois ela
foi descobrir que se chamava “A fada do bosque” (Lorenzo Fernandez).
Erik fez uma linda interpretação da música, o que fez com que Caroline soltasse
alguns suspiros, e baixasse um pouco a guarda. Quando o rapaz parou de tocar,
ela sentou-se ao seu lado no banco que Erik usou para tocar, e ficaram ali por
um tempo, conversando e vez ou outra, Erik tocava uma música. Contou sobre sua
curta carreira na sinfônica, e ao parar de falar, uma tristeza tomou conta
dele, como se nunca mais fosse sentir a sensação de subir ao palco, as
borboletas no estômago que antecediam cada apresentação que fazia. Foi quando
viu o olhar triste dele, que, Caroline se aproximou e o beijou. Fora um beijo
doce e delicado no começo, mas que com o tempo ganhou intensidade, e o desejo
tomou conta dos dois, tornando-o devastador e sensual. Erik e Caroline agora
estavam de pé. Ele a puxou para seus braços, que agora estavam em volta do
delicado corpo da garota. Caroline entrelaçava seus dedos pelo desgrenhado
cabelo dele, puxando seu rosto mais para perto. O desejo queimava dentro de
seus peitos, e quando por fim se separaram, ambos estavam ofegantes.
Quando
se deu conta do que havia acontecido, um rubor impossível de não ser notado
tomou conta do rosto de Caroline. E Erik, meio envergonhado pelo ocorrido, deu
um sorriso de lado, uma forma de se desculpar e de agradecer.
Logo após o beijo, decidiram
que era melhor e mais coerente que subissem antes que os enfermeiros dessem
falta deles. E inevitavelmente, quando deram as mãos para enfrentar mais uma
vez a escuridão, um sorriso tímido apareceu em seus rostos.
Erik
acabara de se deitar para dormir, quando ouviu um gemido. Neste momento ela já
sabia o que estava por vir...
-
Você está ficando pior do que eu pensava, hein... meu amor. Se aproveitando da
garota antes de dar o bote. – a voz na cabeça de Erik agora era de uma mulher,
e para piorar, o aterrorizava como nunca. – Não se apaixone por ela, querido,
você sabe que pertence a mim, mate-a logo, acabe com isso e venha para mim,
venha para meus braços, deixe-me fazer de você o homem que nenhuma outra mulher
jamais irá fazer. - Erik tentava resistir, tentava não pensar no que a voz lhe
dizia, mas isso ficava cada vez mais difícil.
A
voz continuou a lhe atormentar por mais um longo tempo, com juras de amor,
falas obscenas e com pedidos sem cabimento. Então, Erik fechou os olhos, e
tentou esquecer o que a voz lhe dizia, dessa vez não foi tão difícil, já que
não conseguia deixar de pensar no beijo que acontecera um pouco mais cedo. E
quando fechou os olhos, o sono logo tomou conta de seu corpo e a inconsciência
de sua mente.
Caroline
repousava em seu quarto. Estava mais melancólica do que de costume, pela falta
que Erik lhe fazia. O medo de perdê-lo e de ser abandonada era incessante.
Acabara por adormecer pensando nele.
“Era uma tarde ensolarada,
Erik e Caroline estavam à frente de dezenas de pessoas, e pela primeira vez, em
muito tempo, ambos se sentiam felizes por completo. Caroline estava radiante em
um longo vestido branco, com detalhes prateados que realçavam a palidez de sua
pele, fazendo-a resplandecer por tamanha beleza, tão pura e virginal quanto a
dos anjos que tocavam as trombetas nos reinos dos céus, anunciando o amor puro
e verdadeiro que nutriam um pelo outro. Os pais de Erik estavam lá, assim como
suas irmãs. Os pais de Caroline ao lado suas tias, e de algumas crianças, com
as quais a moça crescera e que se apegara, ainda que bem pouco. O casamento
estava sendo realizado em uma linda praia, com ondas quebrando ao fundo e
algumas lindas gaivotas voando ao longe. O padre que realizava a cerimônia era
um senhor de bastante idade e de bochechas rosadas; muito sorridente,
parabenizava os noivos, que ele dizia ser o casal mais belo que já casara. Erik
em um terno preto e sob medida, parecia um príncipe aguardando sua linda dama
que ia a seu encontro, para, em breve, tornar-se sua amada e respeitada esposa.
Erik nunca estivera tão nervoso e com tanto medo, em pouco tempo teria a
responsabilidade de ter em seus braços a mulher mais perfeita de seu mundo.
Caroline andava em sua direção, e quando suas mãos se tocaram, um choque leve
percorreu por seus corpos, a eletricidade entre eles era tão forte que parecia
palpável naquele lugar. Após trocarem juras de amor tão lindas, que fizeram com
que grande parte dos que assistiam a cerimônia derramassem algumas lágrimas de
emoção, de trocarem as alianças e receber a benção do padre, Erik inclinou-se
para tocar os lábios de sua amada esposa....”
Caroline
acordou chorando, após ter aquele lindo sonho com Erik, sentia uma nostalgia
que fez seu estômago se revirar ao perceber que não passara de uma ilusão. Não
entendia como podia estar acordada àquela hora, sabendo que os antidepressivos
deveriam fazê-la dormir por toda à noite. Foi ao pensar nisso, que se deu conta
de que havia mais alguém no quarto, de início pensou ser algum enfermeiro,
passando para ver se estava tudo bem, mas foi só quando viu os profundos olhos
de Erik, que percebeu a presença do rapaz.
Erik estava com uma faca empunhada
à mão. A escuridão dificultava a visão da moça, que conseguia ver apenas Erik aproximando-se lentamente, e com um
golpe rápido e preciso, cortou-lhe a jugular, fazendo com que o sangue da moça
jorrasse por todo lado, manchando inclusive as mãos e as vestes, que em pouco
tempo ficaram empapadas do líquido quente e espesso.
-
Pronto meu amor, agora poderemos ficar juntos, eles irão nós deixar em paz, no
paraíso você será meu eterno anjo, e todas as vozes irão finalmente se calar,
os monstros nunca mais irão nos machucar. – com uma pausa e um suspiro
melancólico, repleto de dor e agonia, Erik prosseguiu. - Pronto papai, pode se
orgulhar de mim agora, pode descansar e enfim partir em paz. Vamos Caroline,
meu amor, vamos viver em nosso próprio paraíso, vamos perpetuar nosso amor ao
lado dos anjos e deixar para trás todos aqueles que nos feriram e impediram de
sermos felizes.
Dizendo
isso, Erik ergueu a faca ao alto e com uma força descomunal proferiu um golpe
em direção ao próprio peito. Acertando em cheio, seu coração.
Seu
corpo caiu ao lado do de sua amada, e por fim, ambos tiveram na morte a paz
nunca encontrada na vida, o sangue que jorrava de seus corpos se misturavam,
formando o elixir da vida, representando o amor, a pureza e a esperança de um
lugar em que suas almas pudessem, enfim se elevar e descansar, lado a lado, em
paz.
Nossa que per-fect ♡
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